AS SENTINELAS DO FEMINISMO E DA AUTORIA NEGRA: A REPRESENTATIVIDADE DA MULHER NEGRA NA LITERATURA BRASILEIRA
THE SENTINELS OF FEMINISM AND BLACK AUTHORSHIP: THE REPRESENTATIVITY OF BLACK WOMEN IN BRAZILIAN LITERATURE
Junior César Ferreira de Castro 1, Mariana Silva Costa Barros 2.
Resumo
O artigo tem como finalidade discutir, por meio de uma pesquisa bibliográfica, qualitativa e descritiva, o trajeto das mulheres negras no meio literário enquanto autoras e personagens, partindo-se do Romantismo com A escrava Isaura, de Bernardo de Guimaraes, adentrando ao período naturalista em O cortiço, de Aluísio Azevedo, passando pelo Modernismo com o Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato e “Essa negra fulô”, de Jorge Lima, até chegar a contemporaneidade com Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, Não vou mais lavar os pratos, de Cristiane Sobral, e o poema “boletim de ocorrências”, de Alzira Rufinero. O estudo viabiliza uma discussão que parte da dificuldade da autoria feminina e a da escritora negra em encontrar espaço para a publicação de suas obras, em especial, à questão do feminismo negro como sendo um fato importante nessa luta para se validar sem precisar de nomes de terceiros para a publicação de seus livros que, além do machismo, lutavam contra o racismo onde a imagem da mulher negra era descrita por autores homens brancos sem ter o poder de fala (RIBEIRO, 2017). Para fundamentar tal proposta, convocamos Hooks (2020), Zolin (2009), Lobo (1998), Schimidt (1994) e Baroni (2006) uma vez que a luta pela emancipação feminina, em seus vários aspectos, mostra, claramente, o direito das mulheres assim como das negras em continuar progredindo no mundo literário. O objetivo é demonstrar, pelo método dedutivo, que a mulher negra, pela sua garra e da representatividade na literatura, pode quebrar os estigmas da imagem das personagens em apenas de servir as mulheres brancas burguesas ou ao patriarcado, tornando-se protagonistas da própria criação no que diz respeito a ser a sua personagem principal e enquanto a autora de sua obra de arte literária.
Palavras-chave
Abstract
The purpose of this article is to discuss, through bibliographical, qualitative and descriptive research, the trajectory of black women in the literary environment as authors and characters, departing from Romanticism with A escrava Isaura, by Bernardo de Guimaraes, entering the naturalist period in O cortiço, by Aluísio Azevedo, going through Modernism with Sítio do Pica-Pau Amarelo, by Monteiro Lobato and “Essa negra fulô”, by Jorge Lima, until contemporaneity with Quarto de despejo, by Carolina Maria de Jesus, Não vou mais lavar os pratos, by Cristiane Sobral, and the poem “boletim de ocorrências”, by Alzira Rufinero. The study makes possible a discussion that starts from the difficulty of female authorship and that of the black writer in finding space for the publication of her works, in particular, the issue of black feminism as being an important fact in this struggle to validate itself without needing names of third parties for the publication of his books that, in addition to machismo, fought against racism where the image of the black woman was described by white male authors without having the power to speak (RIBEIRO, 2017). To support this proposal, we call on Hooks (2020), Zolin (2009), Lobo (1998), Schimidt (1994) and Baroni (2006) since the struggle for female emancipation, in its various aspects, clearly shows the right women as well as black women to continue to make progress in the literary world. The objective is to demonstrate, through the deductive method, that the black woman, by her claw and representativeness in literature, can break the stigmas of the image of the characters in just serving the bourgeois white women or the patriarchy, becoming protagonists of the creation itself with regard to being his main character and as the author of his literary work of art.
Keywords
Referências
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Scipione, 2001.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2009.
BARONI, Vera Oficina. Convenções sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (CERD) e contra a mulher (CEDAW). Articulando conceitos para seu cumprimento conjugado no Brasil. In:___________. Mulher negra: sujeito de direitos e a convenção para a eliminação da discriminação. Brasília: AGENDE, 2006.
FREIRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.
FRENCH, Marilyn; POWER, Beyond. On Women, Men, and Morals. New York, 1985.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 7. ed. São Paulo: Ática, 2019.
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
HOOKS, Bell: O Feminismo é para todo mundo políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.
LIMA, Jorge de. Negra fulô. In: Poesia Completa. Volume III. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
LOBATO, Monteiro. O pica-pau amarelo. São Paulo: Brasiliense, 2005.
LOBO, Luísa. Literatura de autoria feminina na América Latina. Revista Mulher e Literatura, Rio de Janeiro, 1998. Disponível em: http://www.openlink.com.br/nielm/revista.htm. Acesso em: 28 fev. 2021.
PIERCE, Charles. Ícone, índice e símbolo. In: Semiótica. 4. ed. Tradução José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2017, p. 63-76.
REVISTA CULT. Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro, 5 de Fevereiro de 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/quem-e-e-sobre-o-que-escreve-o-autor-brasileiro/. Acesso em: 08 mar. 2021.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Femininos Plurais. Belo Horizonte: Letramento, 2017.
RUFINO, Alzira. boletim de ocorrências. In: ________. Eu, Mulher Negra, Resisto. Rio de Janeiro: Editora do autor, 1988.
SCHMIDT, Rita Terezinha. Da ginolatria à genologia: sobre a função teórica e a prática feminista. In: FUNCK, Susana Bornéo (Org.). Trocando ideias sobre a mulher e a literatura. Florianópolis, SC: Universidade Federal de Santa Catarina, 1994, p. 23-32.
SHOWALTER, Elaine. Toward a Feminist Poetics: Women’s Writing and Writing About Women. In: The New Feminist Criticism: Essays on Women, Literature and Theory. Random House, 1988.
SOARES, Vera. O verso e o reverso da construção da cidadania feminina, branca e negra no Brasil. In: GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo; HUNTLEY, Lynn. (Orgs.). Tirando a máscara: ensaios sobre o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 257-282.
SOBRAL, Cristiane. Não vou mais lavar os pratos. Brasília: Athalaia, 2010.
ZOLIN, Lúcia Osana. Literatura de autoria feminina. In: ZOLIN, Lúcia Osana; BONNICI, Thomas. Teoria Literária. 3. ed. Maringá: Eduem, 2009.
Submetido em:
11/02/2021
Aceito em:
17/03/2021