EXPERIÊNCIAS DE UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO TRABALHO COM FOCO NA ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE: UM ESTUDO DE CASO
EXPERIENCES OF A PERSON WITH DISABILITIES AT WORK WITH A FOCUS ON ERGONOMICS AND ACCESSIBILITY: A CASE STUDY
EXPERIENCIAS DE UNA PERSONA CON DISCAPACIDAD EN EL TRABAJO CON UN ENFOQUE EN ERGONOMÍA Y ACCESIBILIDAD: UN ESTUDIO DE CASO
Christian Albers, Jacinta Sidegum Renner, Michele Barth, Gustavo Roese Sanfelice
Resumo
Considerando-se as relações sociais, as experiências pessoais e os sentidos atribuídos ao trabalho, este trabalho visa compreender as vivências e as percepções de uma pessoa com deficiência (PcD) sobre o seu trabalho, tendo em vista as questões ergonômicas e de acessibilidade. A pesquisa é de natureza aplicada e em relação aos objetivos é descritiva. Quanto aos procedimentos é um estudo de caso. A análise e discussão têm abordagem qualitativa. A escolha do participante foi por conveniência e pela singularidade do caso. O campo do estudo foi a cidade de Linha Nova (RS). Os instrumentos de coleta utilizados foram a entrevista em profundidade e o diário de campo. Os resultados indicaram que José tem grande identificação com o seu trabalho, sendo central na sua vida. Atribui ao trabalho seu único meio de convívio social. Sobre as dificuldades enfrentadas por ser PcD, traz a falta de acessibilidade física, estrutural e atitudinal, assim como as questões de não adequação ergonômica do posto de trabalho e do maquinário, como fatores que dificultam a realização do seu trabalho e interferem na sua qualidade de vida. Apesar de dificuldades de mobilidade e acessibilidade, além de certo grau de capacitismo por ele vivenciado, José demonstra autorrealização e boa autoestima. O trabalho como meio de realização pessoal e de convívio social acaba interferindo na identidade do trabalhador, sendo que, no caso das PcD, a possibilidade de trabalhar aumenta o autorreconhecimento de suas capacidades, além de oportunizar inclusão social e cidadania.
Palavras-chave
Abstract
Considering social relationships, personal experiences and the meanings attributed to work, this research aims to understand the experiences and perceptions of a person with a disability (PwD) about their work, taking into account ergonomic and accessibility issues. The research is applied in nature and in relation to the objectives it is descriptive. As for the procedures, it is a case study. The analysis and discussion have a qualitative approach. The participant was chosen for convenience and the uniqueness of the case. The field of study was the city of Linha Nova (RS). The collection instruments used were the in-depth interview and the field diary. The results indicated that José has great identification with his work, which is central to his life. He attributes work as his only means of social interaction. Regarding the difficulties faced by being PwD, it brings the lack of physical, structural and attitudinal accessibility, as well as issues of ergonomic non-adequacy of the workstation and machinery, as factors that make it difficult to carry out your work and interfere with your quality of work. life. Despite mobility and accessibility difficulties, in addition to a certain degree of ableism he experienced, José demonstrates self-realization and good self-esteem. Work as a means of personal fulfillment and social interaction ends up interfering with the worker's identity, and in the case of PwD, the possibility of working increases self-recognition of their capabilities, in addition to providing opportunities for social inclusion and citizenship.
Translated version DOI: https://doi.org/10.4322/rae.v18n2.e202408.en
Keywords
Resumen
Teniendo en cuenta las relaciones sociales, las experiencias personales y los significados atribuidos al trabajo, este trabajo tiene como objetivo comprender las experiencias y percepciones de una persona con discapacidad (PcD) sobre su trabajo, teniendo en cuenta las cuestiones ergonómicas y de accesibilidad. La investigación es de carácter aplicado y en relación a los objetivos es descriptiva. En cuanto a los procedimientos, se trata de un estudio de caso. El análisis y la discusión tienen un enfoque cualitativo. La elección del participante fue por conveniencia y la singularidad del caso. El campo de estudio fue la ciudad de Linha Nova (RS). Los instrumentos de recolección utilizados fueron la entrevista en profundidad y el diario de campo. Los resultados indicaron que José tiene una gran identificación con su trabajo, siendo central en su vida. Atribuye al trabajo su único medio de interacción social. En cuanto a las dificultades que enfrenta ser PcD, trae consigo la falta de accesibilidad física, estructural y actitudinal, así como los problemas de inadecuación ergonómica del puesto de trabajo y de la maquinaria, como factores que dificultan el desempeño de su trabajo e interfieren en su calidad de vida. A pesar de las dificultades de movilidad y accesibilidad, además de cierto grado de capacitismo que experimenta, José demuestra autorrealización y buena autoestima. El trabajo como medio de realización personal e interacción social termina interfiriendo en la identidad del trabajador, y en el caso de las PcD, la posibilidad de trabajar aumenta el autoreconocimiento de sus capacidades, además de brindar oportunidades de inclusión social y ciudadanía.
DOI de la versión traducida: https://doi.org/10.4322/rae.v18n2.e202408.es
Palabras clave
Referencias
Abrahão, J. I., Silvino, A. M. D., & Sarmet, M. M. (2005). Ergonomia, Cognição e Trabalho Informatizado. Psicologia: teoria e pesquisa, 21(2), 163-171. Recuperado em 03 de junho de 2024, de https://www.scielo.br/j/ptp/a/trQbt5kcM54n7PmJ8rYpHPq/?format=pdf&lang=pt
Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO). (2000). A certificação do ergonomista brasileiro - Editorial do Boletim 1/2000, Associação Brasileira de Ergonomia.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020). NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro.
Barth, M. (2024). Sensibilização pelo diálogo. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 120-123). Rio de Janeiro: ABERGO.
Barth, M., Renner, J. S., & Albers, C. (2022a). Processo de exclusão/inclusão de usuários de cadeira de rodas no mercado de trabalho: demandas ergonômicas e de acessibilidade. Ação Ergon., 16(2), 1-9. Recuperado em 08 de abril de 2024, de https://app.periodikos.com.br/journal/abergo/article/doi/10.4322/rae.v16n2.e202203.
Barth, M., Renner, J. S., & Albers, C. (2022b). O Trabalho e a Reserva de Vagas para Pessoas com Deficiência no Brasil: a Percepção dos Usuários de Cadeira de Rodas. In Cavalcanti, F. S. Z & Campos, G. R. (Org.). Direitos Humanos, Apoios e Autonomia: Os novos rumos da inclusão da pessoa com deficiência. (1a. ed., pp. 96-108). Minas Gerais: IEP-MG. Recuperado em 29 de maio de 2024, de https://iepmg.i10bibliotecas.com.br/livro/488/digital
Barth, M., Renner, J. S., & Barbosa, M. L. L. (2022c). Estigmas relacionados ao design da cadeira de rodas. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 17(1), 1-17. Recuperado em 07 de abril de 2024, de http://www.seer.ufsj.edu.br/revista_ppp/article/view/3165.
Brasil. (2011, 11 de agosto). Lei Federal nº 12.470, de 11 de agosto de 2015. Altera os arts. 21 e 24 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre o Plano de Custeio da Previdência Social. Recuperado em 27 de maio de 2024, de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12470.htm#art3.
Brasil. (2015, 06 de julho). Lei Federal nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Recuperado em 08 de abril de 2024, de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm.
Carvalho, R. J., & Gemma, S. F. B. (2023). Ergonomia participativa e tecnologia social: aproximações teóricas para uma melhor prática ergonômica. R. Ação Ergon., 17(1), 01-08. Recuperado em 03 de junho de 2024, de https://revistaacaoergonomica.org/article/10.4322/rae.v17e202313/pdf/abergo-17-1-1.pdf
Faria, A. T., & Elali, G. A. (2012). Promovendo a inclusão: uma experiência de participação de pessoa com deficiência visual no desenvolvimento de um projeto arquitetônico. R. Ação Ergon., 7(2), 61-75. Recuperado em 08 de abril de 2024, de https://app.periodikos.com.br/journal/abergo/article/627d4ddda9539501d20149e3.
Franz, L. A. S. (2024). Compreender o trabalho para projetar o ambiente. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 9-13). Rio de Janeiro: ABERGO.
Galli, J. (2024). Atuação da ergonomia na inclusão de PcD. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 111-115). Rio de Janeiro: ABERGO.
Goffman, E. (2013). Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. (4a. ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Hohmann, P., & Cassapian, M. R. (2011). Adaptações de baixo custo. Rev. Ter. Ocup. Univ., 22(1), 10-18. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p10-18.
Iida, I, & Guimarães, L. B. M. (2016). Ergonomia: projeto e produção. (3a. ed). São Paulo, SP: Blücher.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2022). PNAD Contínua: Pessoas com Deficiência 2022. Recuperado em 27 de maio de 2024, de https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102013_informativo.pdf
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2022). Censo Demográfico 2022. Recuperado em 27 de maio de 2024, de https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/
Lima, M. P., Tavares, N. V., Brito, M. J., & Cappelle, M. C. A. (2013). O sentido do trabalho para pessoas com deficiência. Rev. Adm. Mackenzie, 14(2), 42-68. https://doi.org/10.1590/S1678-69712013000200003.
Macêdo, K. B., Lima, J. G., Fleury, A. R. D., & Carneiro, C. M. S. (2016). Organização do trabalho e adoecimento: uma visão interdisciplinar. Goiânia: PUC Goiás.
Marcondes, N. A. V., & Brisola, E. M. A. (2014). Análise por triangulação de métodos: um referencial para pesquisas qualitativas. Revista Univap, 20(35), 201-208. https://doi.org/10.18066/revunivap.v20i35.228.
Minayo, M. C. S., Souza, E. R., Constantino, P., & Santos, N. C. (2005). Métodos, técnicas e relações em triangulação. In M. C. S. Minayo, S. G. Assis & E. R Souza. (Eds.), Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. (1a. reimp.). Rio de Janeiro: FIOCRUZ.
Montmollin, M. (1995). A ergonomia. Lisboa: Instituto Piaget.
Moraes, A., & Mont'alvão, C. (2010). Ergonomia: conceitos e aplicações. (4a. ed.). Teresópolis, RJ: 2AB.
Morin, E. M. (2001). Os sentidos do trabalho. RAE - Revista de Administração de Empresas, 41(3), 8-19. Recuperado em 08 de abril de 2024, de http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/view/37722/36471.
Pereira, M. A. D., & Sousa, L. M. (2016). Sofrimento psíquico, gênero e o trabalho na área do cuidado. In K. B. Macêdo, J. G. Lima, A. R. D. Fleury, & C. M. S. Carneiro. (Eds.) Organização do trabalho e adoecimento: uma visão interdisciplinar. Goiânia: PUC Goiás.
Prodanov, C. C., & Freitas, E. C. (2013). Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. (2a. ed.). Novo Hamburgo: Feevale.
Renner, J. S, & Barth, M. (2024). Mobiliário Ergonômico. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 28-32). Rio de Janeiro: ABERGO.
Rocha, A. C., & Eckert, C. (2008). Etnografia: saberes e práticas. In C. R. J Pinto & C. A. B. Guazzelli. (Eds.). Ciências Humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Editora da Universidade.
Rocha, B. S. (2024). As barreiras em ambientes industriais. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 88-92). Rio de Janeiro: ABERGO.
Souza, M. E. L., & Faiman, C. J. S. (2007). Trabalho, saúde e identidade: repercussões do retorno ao trabalho, após afastamento por doença ou acidente, na identidade profissional. Saúde, Ética & Justiça, 12(1/2), 22-32. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2770.v12i1-2p22-32.
Stake, R. E. (2003). The case study method in social inquiry. In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln. The American tradition in qualitative research. Vol. II. Thousand Oaks, California: Sage Publications.
Silvino, A. M. D. & Abrahão, J. I. (2003). Navegabilidade e inclusão digital: usabilidade e competência. ERA Eletrônica, 2(2), 1-17. https://doi.org/10.1590/S1676-56482003000200002
Tolfo, S. R., & Piccinini, V. (2007). Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros. Psicologia & Sociedade, 19(1), 38-46. https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000400007.
Vergara, L. G. L. (2024). Design Universal. In L. G. L. Vergara, L. A. S. Franz & M. Barth (Eds.), Manual de Ergonomia do Ambiente Construído e Acessibilidade. (pp. 19-22). Rio de Janeiro: ABERGO.
VIDAL, M. C. (s. d.). CESERG - Curso de Especialização Superior em Ergonomia: Introdução à Ergonomia. Universidade do Brasil, UFRJ: COOPE. Recuperado em 03 de junho de 2024, de http://www.ergonomia.ufpr.br/Introducao%20a%20Ergonomia%20Vidal%20CESERG.pdf
Zanini, P. P., Moraes, G. H. S. M., & Mariotto, F. L. (2011). Para que servem os Estudos de Caso Único? XXXV Encontro da ANPAD. Recuperado em 05 de abril de 2024, de https://arquivo.anpad.org.br/diversos/down_zips/58/EPQ517.pdf.