A DESCONFIANÇA NA ANÁLISE DE ACIDENTES: O CASO DE UM NAVIO-SONDA DE PERFURAÇÃO BRASILEIRO
DISTRUST IN ACCIDENT ANALYSIS: THE CASE OF A BRAZILIAN DRILLING DRILLING SHIP
DESCONFIANZA EN EL ANÁLISIS DE ACCIDENTES: EL CASO DE UNA PERFORADORA BRASILEÑA
Eliel Prueza de Oliveira, Mateus Pereira Abraçado, Mariana Toledo Martins, Vitor Fernando Silva Gomes Pereira, Bruno Cesar Kawasaki, Maria das Graças Sinésio da Silva, Francisco de Paula Antunes Lima, Francisco José de Castro Moura Duarte
Resumo
A confiança é considerada um dos principais elementos definidores da cultura de segurança. Ao baixo nível de confiança se associam diversos malefícios, como redução da cooperação e omissão de problemas, que podem levar a acidentes. Na análise de acidentes, a confiança é um elemento crucial para evitar receio de punições e obter um relato fidedigno do acontecido, promovendo um ambiente de aprendizado e, assim, melhorar a segurança nas organizações. Dentre os vários aspectos envolvidos no estudo da confiança, este artigo visa, especificamente, identificar como as relações de confiança impactam e são impactadas pelos processos de análise de acidentes. Para tanto, um estudo de caso é conduzido com a força de trabalho de um navio-sonda de construção de poços marítimos no Brasil. Relatos coletados em grupos focais foram a principal fonte de dados, além de entrevistas e observações diretas. A análise do material revela a existência de desconfiança e retenção de informações, que configuram barreiras psicológicas e comunicacionais entre a força de trabalho e as empresas contratadas e contratantes. Essas questões se relacionam a fatores como investigações que tendem à culpabilização e a tentativa de coibir o silêncio defensivo através da vinculação de indicadores de segurança à avaliação de desempenho do navio-sonda. Constata-se que a capacidade de aprendizado organizacional é impactada pela desconfiança sobre a liderança e o processo de investigação de acidentes, e que essa desconfiança está atrelada a uma cultura de culpabilização. Por fim, propõem-se para pesquisas futuras o contraste entre os resultados de metodologias de investigação de ocorrências que tendem à culpabilização e metodologias que alimentam a confiança como base do processo de aprendizado coletivo.
Palavras-chave
Abstract
Trust is considered one of the main defining elements of security culture. A low level of trust is associated with several harms, such as reduced cooperation and omission of problems, which can lead to accidents. When analyzing accidents, trust is a crucial element to avoid fear of punishment and obtain a reliable report of what happened, promoting a learning environment and, thus, improving safety in organizations. Among the various aspects involved in the study of trust, this article specifically aims to identify how trust relationships impact and are impacted by accident analysis processes. To this end, a case study is conducted with the workforce of a offshore well construction drillship in Brazil. Reports collected in focus groups were the main source of data, in addition to interviews and direct observations. Analysis of the material reveals the existence of distrust and withholding of information, which create psychological and communicational barriers between the workforce and the contractors and contractors. These issues are related to factors such as investigations that tend to blame and the attempt to curb defensive silence by linking safety indicators to the drillship's performance assessment. It appears that the organizational learning capacity is impacted by distrust in leadership and the accident investigation process, and that this distrust is linked to a culture of blame. Finally, future research proposes a contrast between the results of incident investigation methodologies that tend to blame and methodologies that foster trust as the basis of the collective learning process.
Translated version DOI: https://doi.org/10.4322/rae.v17n2.e202302.en
Keywords
Resumen
La confianza se considera uno de los principales elementos definitorios de la cultura de seguridad. El bajo nivel de confianza se asocia con varios daños, como la reducción de la cooperación y la omisión de problemas, lo que puede provocar accidentes. En el análisis de accidentes, la confianza es un elemento crucial para evitar el miedo al castigo y obtener un informe fiable de lo sucedido, fomentando un ambiente de aprendizaje y, así, mejorando la seguridad en las organizaciones. Entre los diversos aspectos involucrados en el estudio de la confianza, este artículo tiene como objetivo específico identificar cómo las relaciones de confianza impactan y son impactadas por los procesos de análisis de accidentes. Para ello, se realiza un estudio de caso con la mano de obra de un buque de perforación para la construcción de pozos costa afuera en Brasil. Los informes recogidos en los grupos focales fueron la principal fuente de datos, además de las entrevistas y las observaciones directas. El análisis del material revela la existencia de desconfianza y retención de información, que configuran barreras psicológicas y comunicativas entre la plantilla y las empresas contratadas y contratantes. Estos problemas están relacionados con factores como las investigaciones que tienden a culpar y el intento de frenar el silencio defensivo vinculando los indicadores de seguridad a la evaluación del desempeño del buque de perforación. Se encuentra que la capacidad de aprendizaje organizacional se ve afectada por la desconfianza en el liderazgo y en el proceso de investigación del accidente, y que esta desconfianza está vinculada a una cultura de culpa. Finalmente, se propone para futuras investigaciones el contraste entre los resultados de metodologías para investigar los sucesos que tienden a culpar y las metodologías que alimentan la confianza como base del proceso de aprendizaje colectivo.
DOI de la versión traducida: https://doi.org/10.4322/rae.v17n2.e202302.es
Palabras clave
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