Meningite após técnica combinada para analgesia de parto. Relato de caso
Amaury Sanchez Oliveira ; Carlos Alberto Figueiredo Côrtes
Resumo
Senhor Editor,
Considerando-se a importância dos autores, é oportuna a publicação "Meningite após Técnica Combinada para Analgesia de Parto. Relato de Caso", devido à generalização, com o risco de banalização desta técnica no nosso país, com o que não concordamos, inclusive recebendo o rótulo de técnica de analgesia mais próxima da ideal e colocando-se publicamente a peridural contínua segmentar com emprego de anestésico local associado a drogas opióides como técnica ultrapassada de analgesia para o trabalho de parto.
Consideramos "fantástico" o imediato alívio das dores provocadas pelas contrações uterinas após a injeção subaracnóidea das drogas opióides, seguida de excelente analgesia sem a ocorrência de bloqueio motor. Contudo por vários motivos não elegemos neste departamento a técnica combinada como 1ª opção para analgesia da 1ª fase do trabalho parto, visto que indicamos a peridural contínua segmentar com anestésico local associado aos opióides 1-3, tendo sido realizadas 56.925 analgesias desde 1.965, sem a ocorrência de nenhum caso de meningite. A literatura sugere que a técnica combinada proporciona analgesia efetiva mas é insuficiente para avaliar a eficácia analgésica quando comparada à peridural com anestésico local 4 e que a incidência de operações cesarianas e de partos instrumentais são semelhantes 5.
Prurido intenso 5, hipotensão arterial e bradicardia fetal 6,7, depressão respiratória 8, altos níveis de bloqueio sensitivo atingindo até a região facial 9, são complicações e/ou efeitos colaterais descritos recentemente na literatura com o emprego da técnica combinada, embora potencialmente estas alterações possam ocorrer com a tradicional peridural segmentar.
Mas o principal obstáculo que colocamos para a adoção da técnica combinada, a qual poderia ser indicada para analgesia do trabalho de parto quando a dilatação do colo uterino fosse incipiente, continua sendo a maior possibilidade de infecção do sistema nervoso central, corroborada por esta publicação, quando se utiliza esta técnica mais invasiva 5,10-13.
Segundo conclusão do relato em discussão se não houver falhas na realização da técnica combinada a questão tornar-se-ia simplesmente inerente ao risco benéfico da técnica. Sugerimos aos adeptos da técnica combinada, que informem as parturientes sobre os potenciais riscos e benefícios das duas técnicas discutidas e desde que se opte pela raqui-peridural combinadas recomendamos que redobrem a atenção no pós-parto, até que futuras pesquisas clínicas avaliem a incidência desta grave complicação relatada.
Referências
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