Brazilian Journal of Anesthesiology
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Necrology

WILLIAM W. MUSHIN (29 / 09 / 1910 - 22 / 01 / 1993)

José Delfino da Silva Neto

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Resumo

Talvez fosse mais fácil, ou mais cômodo, que a opção tivesse sido escrever um necrológio na moldura tradicional de todas as homenagens póstumas: a data de nascimento, o lugar, o nome dos pais, um pouco da infância, com ênfase natural para as dificuldades mais humildes, todas as glórias do adulto, do cientista, do estudioso.

Talvez fosse o melhor caminho. Não para mim, seu aluno. Porque considerar-se discípulo seria muito. Sim, seu aluno, pois a vaidade não pode ostentar mais do que isso. De quando, um dia, cheguei ao País de Gales arrastando a pele morena, a língua latina, o rosto de nordestino, o jeito de ser de quem, espantado, descobria o mundo.

Mas, prefiro, assim. Sem datas. Sem nomes. Sem a precisão dele, aquele inglês solene, austero. Prefiro assim, como se só agora, pela saudade, a intimidade fosse possível. Como se a manhã londrina, tão cinza e tão monotonamente igual, terminasse num gim legítimo, no buquê do seu perfume que me lembra o rosto rosado dos ingleses.

Tudo isso é para lembrar a figura do professor Mushin. Quem, na Anestesiologia da Inglaterra, teria feito mais do que ele, quem foi além? Quem fixou as bases dessa ciência para o resto do mundo, quem soube mais do que ele?

Não falo de titulação. Que vale um título tão longe de lá, do seu mundo, de sua civilização tão britânica? Que vale dizer que foi Sir, que mereceu o título de Cavaleiro do Império Britânico, se o seu Império se fazia e se fez, sempre, pelo valor da sua sabedoria porque ele, antes de tudo foi um sábio?

Por isso não cumpro o desenho monótono das molduras pré-fabricadas. Não passo com o meu olhar de lembrança, o risco sobre o já riscado. Não cubro, não avivo o quase já esmaecido retrato do seu rosto grave, de mais de oitenta anos. Trago William Mushin como se, pela lembrança tivesse eu a força do resgate.

De repente, sou eu que estou ali, diante dele. O orientador que todo estudante gostaria de ter. De conhecer, de fazer uma pergunta qualquer. Diante dele era como se todas as perguntas fossem possíveis e tivessem resposta. E como era estranho saber que sempre teria o cuidado de não afirmar nada facilmente, tão facilmente assim.

Lembro, pois o professor William Mushin, o meu querido "prof". O pioneiro que ergueu, no silêncio dos seus estudos e descobertas, o alicerce da Anestesiologia. Não para transformar gases em sonhos, drogas em alucinações. Ele apenas sonhava, todas as horas, o sonho da ciência pelo inenarrável milagre do saber.

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