O LUGAR DA ORALIDADE NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: DOS DISCURSOS PEDAGÓGICOS DE REFERÊNCIA OFICIAL ÀS PRÁTICAS DE SALA DE AULA SUGERIDAS
Onofre João Gomes
Resumo
Os documentos oficiais são lócus privilegiados para a reflexão e deliberação da prática oral da língua. Com este trabalho, pretendemos analisar como a oralidade é definida ou (re)configurada em termos de discursos e práticas pedagógicas nos documentos que fornecem diretrizes sobre como deve ser pedagogizado um determinado objeto de ensino-aprendizagem, ou melhor, analisamos como a oralidade está institucionalmente documentada, as práticas de ensino-aprendizagem sugeridas e os itinerários de ensino que são levados ao ambiente escolar, advindos pelos Programas e Manuais de Língua Portuguesa do II Ciclo do Ensino Secundário. Para tanto, tomamos como escopo teórico os postulados de (Marcuschi, 2001; Antunes, 2003; Carvalho e Ferrarezi Jr., 2018). A pesquisa enquadra-se numa abordagem de natureza qualitativa, em que os dados são observados por meio de análise documental acerca do objeto oralidade, a qual se deu a partir do aparato técnico-metodológico de análise de conteúdo Bardin (2011). Os resultados atestam que, embora a oralidade é prevista nos documentos oficiais, o seu ingresso é tímido e superficial, pois não se lhe disponibilizam o mesmo tempo de antena em relação à leitura e escrita, quando ela aparece, em muitos casos, os propósitos estão orientados para o desenvolvimento da leitura, por isso, grande parte dos exercícios remetem para a oralização da escrita. Por outra, os dados gerados apontam também que os gêneros orais são invisibilizados nos programas (linguagem sombra ou rascunho da escrita) e pouco representativos nos manuais (ocupando um lugar limitado e acidental, aparecem sempre no intervalo que os géneros da escrita os concedem).
Palavras-chave
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Submitted date:
01/31/2025
Accepted date:
02/09/2025