Interpretations of illness and meanings attributed by people experiencing homelessness with mental disorders
Interpretaciones de la enfermedad y significados atribuidos por personas en situación de calle con trastornos mentales
Interpretações da doença e significados atribuídos por pessoas em situação de rua com transtornos mentais
Letícia Passos Pereira; Christine Wetzel; Agnes Olschowsky
Abstract
Objective to present how people experiencing homelessness and living with mental disorders interpret their illness process.
Method this qualitative study employs a theoretical-methodological approach rooted in the anthropology of health. Narrative interviews were conducted and analyzed using Fritz Schütze's framework. Interviews were carried out with five individuals experiencing homelessness and mental disorders, who were supported by a Street Outreach Clinic in capital city in southern Brazil during the second half of 2019.
Results perspectives emerged related to depression, self-harm, suicidal thoughts and attempts, sensory-perceptual experiences, "being nervous," psychotic episodes, and drug use. The findings revealed that participants received heterogeneous psychiatric diagnoses. Their (re)interpretations of the psychiatric explanatory system, shaped by their suffering experiences, and their unique ways of addressing, coping with, and legitimizing these experiences were influenced by cultural, social, political, and economic systems.
Final considerations and implications for practice the study highlights the importance of understanding illness as connected to existential suffering, as an approach solely based on symptoms limits care possibilities. It reinforces the need for care practices that consider individuals' life contexts and subjectivities, emphasizing interdisciplinary and culturally sensitive approaches.
Keywords
Resumen
Palabras clave
Resumo
Objetivo: apresentar como as pessoas em situação de rua com transtornos mentais interpretam seu processo de adoecimento.
Método: consiste em um estudo qualitativo, com abordagem teórico-metodológica da antropologia da saúde. Utilizou-se entrevistas narrativas e análise com o referencial de Fritz Schütze. As entrevistas foram realizadas com cinco pessoas em situação de rua com transtornos mentais, acompanhadas por um Consultório na Rua de uma capital do sul do Brasil, no segundo semestre de 2019.
Resultados: emergiram as perspectivas relacionadas a: depressão; autolesão, pensamentos e tentativas de morte; experiências sensoperceptivas; “ser nervosa”; surtos e uso de drogas. Evidenciou-se que os participantes recebem diagnósticos psiquiátricos heterogêneos e as (re)interpretações que fizeram do sistema explicativo da psiquiatria, a partir de suas experiências de sofrimento, e as maneiras próprias de abordar, lidar e legitimá-lo, tiveram influência de sistemas culturais, sociais, políticos e econômicos.
Considerações finais e implicações para a prática: ressalta-se a importância de compreender a perspectiva da doença ligada a um sofrimento existencial, pois uma abordagem exclusivamente baseada em sintomas limita as possibilidades de cuidado. Reforça-se a necessidade de práticas de cuidado que considerem o contexto de vida dos sujeitos e suas subjetividades, valorizando abordagens interdisciplinares e culturalmente sensíveis.
Palavras-chave
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Accepted date:
16/05/2025