Funeral rites in the COVID-19 pandemic and grief: possible reverberationsa
Rituales funerarios en la pandemia de COVID-19 y dolor: posibles repercusiones
Rituais fúnebres na pandemia de COVID-19 e luto: possíveis reverberações
Maria Eduarda Padilha Giamattey; Joselma Tavares Frutuoso; Maria Lígia dos Reis Bellaguarda; Ivânia Jann Luna
Abstract
Objective: to understand the absence of funeral rituals in the process of living the grief process of Brazilian families who lost loved ones by COVID-19.
Method: this is a qualitative documental research carried out in three newspapers available online. Sixty-seven reports were analyzed, divided into two categories; the first deals with psychological suffering derived from social isolation, such as anxiety, depression, loneliness and fear; and the second deals with the different manifestations of grief and the psychological effect of losses amidst the pandemic.
Result: the ritualization of death is inseparable from the process of elaboration of the losses. The absence of funeral rituals combined with social dictatorship can have a challenging impact on society and mental healthcare professionals. Non-presential strategies for showing affection and elaborating the loss can ease the isolation imposed by the pandemic.
Conclusions and implications for practice: the human living process is full of rites of passage and death-dying rituals prove to be necessary for the experience of farewell, of the certainty of the distance between loved ones and family. It implies resolving modes of emotional, mental and even physical recording of the public expression of griever’s suffering and not forgetting the Being’s to death. It impacts care practice for reception, guidance and elaboration of losses for the maintenance of a healthy life for grievers, which proposes theoretical-reflective arguments in mental healthcare and in the shelter of grievers resulting from the pandemic.
Keywords
Resumen
Palabras clave
Resumo
Objetivo: compreender a ausência de rituais fúnebres na pandemia de COVID-19 no processo de viver o luto das famílias brasileiras que perderam entes queridos por COVID-19.
Método: pesquisa qualitativa documental realizada em três jornais disponibilizados online. Foram analisadas 67 reportagens, divididas em duas categorias; a primeira trata dos sofrimentos psicológicos derivados do isolamento social, como ansiedade, depressão, solidão e medo; e a segunda trata das diferentes manifestações do luto e o efeito psicológico das perdas em meio à pandemia.
Resultado: a ritualização da morte é indissociável do processo de elaboração das perdas. A ausência de rituais fúnebres, aliada ao distanciamento social, repercute de forma desafiadora para a sociedade e para os profissionais da saúde mental. Estratégias não presenciais de demonstração de afeto e elaboração da perda podem amenizar o isolamento imposto pela pandemia.
Conclusões e implicações para a prática: o processo de viver humano é repleto de ritos de passagem e a ritualística na morte-morrer se mostra necessária para a vivência da despedida, da certeza do distanciamento ocorrido entre entes e família. Implica em modos resolutivos de registro emocional, mental e mesmo físico da expressão pública de sofrimento do enlutado e do não esquecimento do Ser à morte. Impacta na prática assistencial para o acolhimento, orientação e elaboração das perdas para a manutenção de vida saudável das pessoas enlutadas, o que propõe argumentos teórico-reflexivos no cuidado em saúde mental e na guarida de pessoas enlutadas decorrentes da pandemia.
Palavras-chave
Referências
1 Li H, Liu L, Zhang D, Xu J, Dai H, Tang N et al. SARS-CoV-2 and viral sepsis: observations and hypotheses. Lancet. 2020;395(10235):1517-20.
2 Ho C, Chee C, Ho R. Mental health strategies to combat the psychological impact of COVID-19 beyond paranoia and panic. Annals of the Academy of Medicine. 2020;49(1):1-3. PMid:32200399.
3 Organização Mundial da Saúde. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on COVID-19 [Internet]. 2020 [citado 2021 maio 7]. Disponível em:
4 Spreeuwenberg P, Kroneman M, Paget J. Reassessing the global mortality burden of the 1918 influenza pandemic. Am J Epidemiol. 2018;187(12):2561-7.
5 Vidal-Alaball J, Acosta-Roja R, Pastor Hernández N, Sanchez Luque U, Morrison D, Narejos Pérez S et al. Telemedicine in the face of the COVID-19 pandemic. Aten Primaria. 2020;52(6):418-22.
6 Aquino EML, Silveira IH, Pescarini JM, Aquino R, Souza-Filho JA, Rocha AS et al. Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Cien Saude Colet. 2020 Jun;25(Supl. 1):2423-46.
7 Santos TBS, Andrade LR, Vieira SL, Duarte JA, Martins JS, Rosado LB et al. Hospital contingency in coping with COVID-19 in Brazil: governmental problems and alternatives. Cien Saude Colet. 2021 Apr;26(4):1407-18.
8 American Psychological Association. Social science and the COVID-19 vaccines [Internet]. 2021 [citado 2021 maio 7]. Disponível em:
9 Souza JB, Heidemann ITSB, Geremia DS, Madureira VSF, Bitencourt JVOV, Tombini LHT. Pandemic and immigration: haitian families in facing COVID-19 in Brazil. Esc Anna Nery. 2020;24(spe):e20200242.
10 Brooks SK, Webster RK, Smith LE, Woodland L, Wessely S, Greenberg N et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet. 2020;395(10227):912-20.
11 Menezes RA, Gomes EC. “Seu funeral, sua escolha”: rituais fúnebres na contemporaneidade. Rev Antropol. 2011;54(1):88-131.
12 Papalia D, Olds SW, Feldman RD. Desenvolvimento humano. 10. ed. Porto Alegre: Artmed; 2009.
13 Fundação Oswaldo Cruz. Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19: Processo de luto no contexto da COVID-19 [Internet]. 2020 [citado 2021 maio 7]. Disponível em:
14 Franco MHP. Porque estudar o luto na atualidade? In: Franco MHP, organizador. Formação e rompimento de vínculos: o dilema das perdas na atualidade. 1. ed. São Paulo: Summus Editorial; 2010. p. 17-42.
15 Van Gennep A. Os ritos de passagem. 2. ed. Petrópolis: Vozes; 2011.
16 Bitencourt JVOV, Meschial WC, Frizon G, Biffi P, Souza JB, Maestri E. Nurse’s protagonism in structuring and managing a specific unit for COVID-19. Texto Contexto Enferm. 2020;29:e20200213.
17 Bayard JP. Sentido oculto dos ritos mortuários: morrer é morrer? 1. ed. São Paulo: Paulus; 1996.
18 Araújo CM, Oliveira MCSL, Rossato M. O sujeito na pesquisa qualitativa: desafios da investigação dos processos de desenvolvimento. Psicol, Teor Pesqui. 2017;(33):e33316.
19 Kripka R, Scheller M, Bonotto DL. Pesquisa documental: considerações sobre conceitos e caraterísticas na pesquisa qualitativa. Atas [Internet]. 2015; [citado 2021 maio 7];2:243-7. Disponível em:
20 Flick U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 2009.
21 Padilha MI, Bellaguarda MLR, Nelson S, Maia ARC, Costa R. O uso das fontes na condução da pesquisa histórica. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e2760017.
22 Jesus DSV. O Brasil no BRICS, segundo a Folha de S. Paulo e O Globo (2011-2013). Aurora. 2014;20(7):51-81.
23 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec; 2014.
24 Jiménez C. Cemitério em São Paulo: a foto que jamais gostaríamos de publicar. El País [Internet]. 2020 abr 2 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
25 Betto F. Antígona e Antares. O Globo [Internet]. 2020 abr 27 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
26 Rossi M. Mortes sem diagnóstico reforçam suspeitas de que estatísticas de coronavírus em São Paulo estão defasadas. El País [Internet]. 2020 mar 31 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
27 Perassolo J, Ferraro M. Na África, funerais são tão importantes quanto casamentos: a pandemia os esvaziou. Folha de São Paulo [Internet]. 2020 maio 16 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
28 Appel C. Coronavírus priva famílias de importantes rituais do luto. Folha de São Paulo [Internet]. 2020 abr 14 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
29 Ribeiro G. Coronavírus: 'Ausência de familiares é o mais triste' conta sepultador do Caju sobre sua nova rotina no cemitério. O Globo [Internet]. 2020 maio 14 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
30 Tatsch C. Velório virtual, orações por aplicativo e grupos de apoio online: o 'novo' luto durante a pandemia do coronavírus. O Globo [Internet]. 2020 abr 25 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
31 Rossi M. “A sala de casa virou uma igreja”: velórios online em tempos de coronavírus. El País [Internet]. 2020 maio 25 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
32 Fortuna M. Padre faz sepultamentos virtuais para vítimas de Covid-19: 'Como dizer a um filho que não pode ir ao funeral do pai?’. O Globo [Internet]. 2020 maio 31 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
33 Rossi M. Coronavírus: “Vamos ter um luto pela falta de consciência. Muitos vão se arrepender de não ter ficado em casa”. El País [Internet]. 2020 abr 28 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
34 Amorim D. Sem velório e com caixões lacrados: coronavírus impõe isolamento até no luto e muda rotina em cemitérios. O Globo [Internet]. 2020 abr 4 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
35 Nunes M. Nova Iguaçu decreta calamidade pública com 80% dos leitos hospitalares já ocupados. O Globo [Internet]. 2020 mar 31 [citado 2021 maio 17]. Disponível em:
36 Souza CP, Souza AM. Rituais fúnebres no processo do luto: significados e funções. Psicol, Teor Pesqui. 2019;35:e35412.
37 Braz MS, Franco MHP. Profissionais paliativistas e suas contribuições na prevenção de luto complicado. Psicologia. 2017;37(1):90-105.
38 Worden JW. Grief counseling and grief therapy: a handbook for the mental health practitioner. 5th ed. Nova York: Springer; 2018.
39 Wallace CL, Wladkowski SP, Gibson A, White P. Grief During the COVID-19 Pandemic: considerations for palliative care providers. J Pain Symptom Manage. 2020;60(1):e70-6.
40 Crepaldi MA, Schmidt B, Noal DS, Bolze SDA, Gabarra LM. Terminalidade, morte e luto na pandemia de COVID-19: demandas psicológicas emergentes e implicações práticas. Estud Psicol. 2020;37:e200090.
41 Ingravallo F. Death in the era of the COVID-19 pandemic. Lancet Public Health. 2020;5(5):e258.